O grande culpado pela inflação é o governo PT com sua política fiscal expansionista. (Foto: Ricardo Stuckert/PR).
Cacoal, RO - Inflação é um daqueles conceitos que gera debates em economia. A Escola Austríaca diz que inflação é a expansão monetária. O consenso acadêmico atual diz que inflação é o aumento generalizado e persistente de preços. Outros economistas dizem que é a perda do poder de compra do dinheiro. Juntando tudo, podemos resumir que inflação é o aumento generalizado e persistente de preços, causado essencialmente pela expansão monetária acima do que a economia consegue absorver, gerando uma perda de poder de compra do dinheiro.
Para a população pouco importa a definição de inflação; o que interessa é se os aumentos de preços de bens e serviços têm corroído o seu poder de compra. Tudo indica que esse processo está em curso no Brasil.
O último IPCA-15 não deixou dúvidas do processo inflacionário no país. O indicador subiu 0,62% em novembro, acima das expectativas de mercado (0,48%), com aceleração em relação a outubro (0,54%). No acumulado de 12 meses, o índice registra alta de 4,77%, acima do teto da meta de 4,5%.
Muita gente questiona se o índice é manipulado, porque há uma sensação de que a inflação na realidade é maior do que a variação apresentada pelo IPCA-15. Essa discrepância não tem a ver com manipulação do índice, mas com questões metodológicas.
O que acontece é que o índice de inflação representa uma média ponderada entre a variação do item e o seu peso no indicador. O problema é que os aumentos de preços captados pelo índice muitas vezes não refletem a nossa inflação, dado que o peso de cada item no nosso orçamento pode ser diferente daquele presente no indicador
Por exemplo, pós-graduação pesa apenas 0,24% no IPCA-15. Mas se uma pessoa gasta R$8.000 por mês e faz uma pós-graduação de R$2.000, o peso deste item no seu orçamento será de 25%. Para ela, um aumento de 5% no curso de pós vai impactar muito mais do que no indicador.
Metodologias à parte, o fato é que uma inflação acumulada de 4,77% é algo significativo. Se por 4 anos a inflação ficar neste patamar, a perda do poder de compra, na média para a população, é de 20,5%, se os salários permanecerem constantes.
Com a inflação nesse patamar, é natural que se procure os culpados – até porque, as elevações de preços atuais não são ocasionadas por questões naturais, como problemas de safra agrícola, que tecnicamente nem é considerado um processo inflacionário, mas um ajuste de valores relativos (choque de oferta).
Feita essa ressalva, não restam dúvidas de que o grande culpado pela inflação é o governo federal com sua política fiscal expansionista.
O gasto público tem crescido bem acima da arrecadação, pressionando a demanda agregada do país
O problema é que a oferta (capacidade produtiva) é fixa no curto prazo, e o PIB efetivo cresce acima do PIB potencial. Como não contamos mais com capacidade ociosa, evidenciada pela redução do desemprego, qualquer estímulo fiscal gera pressões de demanda acima da oferta agregada, levando a aumentos de preços.
O estímulo do governo não vem apenas do gasto, mas também do lado monetário, como o crédito subsidiado. Há diversas linhas de crédito oferecidas pelo governo que operam com taxas de juros abaixo das praticadas pelo mercado. Nesse caso, o aumento da Selic não afeta as empresas e nem os consumidores que tomam dinheiro nas linhas de crédito subsidiadas oferecidas pelos bancos estatais.
Além do crédito subsidiado diminuir a eficácia da taxa Selic, ele tem também um custo fiscal, pois o recurso que o governo empresta mais barato é pago e subsidiado pela própria sociedade. Se, por exemplo, o Tesouro capta recurso a 13%, e o governo empresta a 7%, a própria sociedade paga com impostos essa diferença numa conta chamada equalização fiscal.
A piora nas contas públicas tem outro efeito: eleva o dólar por conta do aumento do risco. Dólar mais elevado potencializa o processo inflacionário, pois, nos produtos consumidos no Brasil, há componentes importados ou cotados na moeda americana.
Outro efeito da deterioração fiscal é a desancoragem das expectativas inflacionárias. Se todo mundo acreditar em mais inflação no futuro, a profecia se realiza. Empresários vão se antecipar, reajustando os preços hoje, e os trabalhadores reivindicaram aumentos salariais, potencializando o processo inflacionário.
Todas essas causas inflacionárias estão contidas em diversos parágrafos na última Ata do Copom. Alguns recados mais explícitos; outros nas entrelinhas. Com uma leitura atenta, tira-se a conclusão de que o excesso de gasto público tem elevado o dólar, pressionado a demanda acima da capacidade de oferta, desancorado as expectativas inflacionárias e tirado potência da política monetária no combate à inflação.
O governo deveria se preocupar com a inflação e seus efeitos políticos. Durante a gestão Dilma, a média de crescimento da economia foi em torno de 3%, e o desemprego girava na casa de 6,5%, situação bem parecida com hoje. Apesar desses números, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar, motivadas, em parte, pela perda do seu poder de compra. Basta lembrar que as manifestações de 2013 começaram com uma elevação da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo.
Nos EUA, a inflação também penalizou os democratas na última eleição. Mesmo com a economia crescendo acima do esperado e a taxa de desemprego próxima de 4%, os eleitores puniram Kamala Harris nas urnas. A mensagem é clara: não adianta ter emprego, se o poder de compra de sua renda diminuir. Esta lição vale também para o atual governo.
Fonte: Por Alan Ghani