Áudio revela que PCC ofereceu R$ 3 milhões a policial para matar delator da facção

Áudio revela que PCC ofereceu R$ 3 milhões a policial para matar delator da facção



Homem é morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Foto: Miguel Schincariol/AFP.

Cacoal, RO - Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) teriam oferecido 3 milhões de reais para que policiais executassem Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, empresário que lavava dinheiro para o grupo e se tornou, recentemente, delator da facção. A oferta foi registrada em um áudio que integra o conjunto de provas do acordo de colaboração com o Ministério Público paulista e foi revelado, nesta quinta-feira 14, pelo site G1.

O empresário, assassinado no aeroporto internacional de São Paulo na última sexta-feira 8, foi o responsável pela gravação. Ele teria captado o áudio entregue ao MP quando presenciou uma ligação telefônica entre um investigador do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e um advogado supostamente ligado ao PCC. A “recompensa” pelo assassinato foi o principal assunto da conversa.

A ligação foi feita usando o viva-voz para que o empresário, propositalmente, ouvisse. As circunstâncias do episódio foram descritas pelos advogados de Gritzbach, que afirma que a captura do áudio foi feita escondida, sem que o conhecimento do policial e do advogado.

No áudio que integra o acordo de delação, o advogado ligado ao PCC propõe ao investigador o assassinato do delator por 300 mil reais. Após uma breve troca de provocações, o representante da facção, então, eleva a oferta para os 3 milhões de reais. A resposta do agente é evasiva: “É… pensa nos 3 [milhões]. Vai pensando, me fala depois.”

Ao MP, a defesa do empresário assassinado posteriormente relata que, após a ligação, o investigador e outra pessoa que estava no local – provavelmente outro policial – tentaram tranquilizar Gritzbach.

“Vou dar um abraço em você. Você não sabe o quanto eu te amo”, diz o investigador. “A gente gosta de você, Vinicius. Relaxa esse coração seu”, completa o colega.

O empresário, porém, não se acalma: “Mas vai relaxar como? O cara falando um negócio desse.”

Denúncias contra policiais

Oito dias antes de sua morte, Gritzbach havia prestado depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, acusando cinco policiais civis e um agente penitenciário de extorsão. Não está claro se o investigador da gravação é um desses agentes.

Segundo ele, policiais do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) teriam exigido 40 milhões de reais para cessar uma investigação que o apontava como possível mandante de dois homicídios ligados ao PCC. O empresário, porém, se recusou a pagar a propina.

A força-tarefa que apura o assassinato busca agora esclarecer se a execução está ligada às denúncias contra os policiais. Há outras linhas de investigação.

Diante dos indícios de participação de policiais no crime, a Polícia Civil já afastou agentes que, supostamente, têm envolvimento no caso. Policiais militares também foram afastados no âmbito da investigação. Os agentes, nesse caso, fazia ilegalmente a segurança do empresário. Há suspeita também de que eles possam ter facilitado a execução.

Relembre o crime

Antonio Vinicius Gritzbach foi executado na última sexta-feira 8, em frente ao terminal de desembarque do aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos. Imagens de câmeras de segurança registraram dois homens encapuzados portando fuzis disparando contra o empresário, que atuava no setor imobiliário. Após a ação, os criminosos fugiram.

Além de Gritzbach, um motorista de aplicativo atingido por um tiro foi levado com vida ao hospital, mas não resistiu. Outras duas pessoas ficaram feridas. Diante da gravidade do caso, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) formou uma força-tarefa para apurar tanto a autoria quanto os mandantes do crime. A Polícia Federal também investiga o episódio em uma apuração paralela.

Entre as linhas de investigação estão o possível envolvimento de integrantes do PCC, policiais civis, policiais militares e credores do empresário.
Fonte: Carta Capital